Sempre acreditei muito que as empresas lideradas por fundadores têm mais chances de sucesso a longo prazo.
E quanto mais cedo o entendimento de como funciona o equity de seu negócio melhor será sua posição em garantir que você ainda possua uma fatia generosa de seu próprio bolo no futuro.
Neste texto serão abordados as seguintes questões/reflexões:
Vamos lá.
1. O que é equity e por que este assunto é de extrema importância?
O equity é a unidade de propriedade de uma empresa e que possui dois componentes:
a. o Componente Economico:
Essa parte a maioria das pessoas entende. Este é o benefício financeiro que você recebe de uma empresa que vai bem. Por exemplo, se você possui 10% de sua empresa e a vende por $ 100 milhões, receberá $ 10 milhões em dinheiro ou o patrimônio líquido equivalente no adquirente.
Quando você abre sua empresa, você e seus cofundadores detêm 100% da empresa. As coisas começam a se complicar conforme você cresce e atrai colaboradores e investidores. Se você levantar fundos, precisará dar a seus investidores patrimônio líquido em troca. À medida que a equipe cresce, você precisa dar Stock Options aos funcionários. O patrimônio, entretanto, é uma torta fixa. Portanto, embora você e seus cofundadores possam ter detido 100% da empresa no início, cada vez que você doar patrimônio a essas pessoas, você também reduzirá sua própria parte.
O componente economico do equity tem tudo a ver com motivação. As pessoas gostam de saber que possuem uma parte do que estão construindo e é uma ótima maneira de trazer e manter pessoas talentosas na equipe. Você não deve se concentrar em manter toda a torta para você. Concentre-se em fazer uma torta tão grande que haja mais do que o suficiente para que todos possam desfrutar.
b. Componente de Controle:
Você pode pensar que controla uma empresa se for o fundador e CEO. Infelizmente, isso não é correto. Uma empresa é controlada por acionistas que votam em um conselho de administração. Esse conselho de diretores escolhe um CEO e outros líderes para administrar a empresa - que podem ou não ser você.
Se você é uma startup recém-formada, isso não é uma preocupação. Se você possui 100% de sua empresa, sua empresa irá selecioná-lo como diretor e, em seguida, nomeá-lo como CEO porque você controla os cordões do fantoche. Embora você possa pensar em sua empresa como 'sua', ela é uma entidade legal separada.
Mas se você levantar dinheiro e convidar investidores, eles ocuparão assentos no conselho e representarão uma porcentagem cada vez maior de acionistas. E se for esse o caso, você não tem mais voz ativa sobre quem controla a empresa.
Há absolutamente benefícios em ter consultores e investidores experientes em seu conselho. Eles podem ajudá-lo a contratar executivos, definir sua estratégia, apresentá-lo aos clientes e ajudá-lo a expandir seus negócios. Mas se as coisas não estiverem indo bem, eles também tem o poder de demitir você.
Algumas estratégias que você pode utilizar para controlar seu conselho e sua empresa por mais tempo:
"Super voting" - fundadores bem-sucedidos conseguiram manter o controle dando a si próprios ações com "poderes diferenciados", que são basicamente ações que dão a você mais votos do que você obteria com ações normais. Mark Zuckerberg e Evan Spiegel usaram isso para manter o controle por muito tempo depois que suas empresas abriram o capital, mesmo quando não são mais acionistas majoritários.
"Smart Financing" - gerencie bem seus recursos e reduza a necessidade de capital externo. Quanto melhor for o desempenho da sua empresa, maior será a sua avaliação ao angariar fundos. Quando você levanta um Seed Round ou Série A, não dê muito de sua empresa, porque você precisará levantar mais capital no futuro.
Muitos empreendedores mergulham em um negócio sem nunca pensar em como sairão dele. Mas isso é realmente importante fazer certo desde o início e reavaliar a cada seis meses mais ou menos: seu valor final influencia como (e por que) você constrói.
Se você está pensando seriamente em abrir o capital, por exemplo, o crescimento e a aquisição de usuários serão essenciais.
Esperando ser adquirido? Você vai querer se concentrar na construção de um produto matador que os concorrentes maiores não podem deixar de comprar.
E se você está planejando expandir com capital de risco, é melhor você estar pronto para reservar os próximos três a sete anos de sua vida para estar de cabeça enfiada no negócio.
Seja qual for o caminho que você seguir, o que importa é saber o final do jogo desde o início. E claro, ir ajustando conforme o campo e a bola e permitem.
É possível observar de 10-20% vendido a investidores em cada financiamento como a norma. Isso significa que você tem de 3 a 5 rodadas de financiamento antes de não ser o acionista majoritário.
2. Principais dicas para gerenciar o equity.
Saber qual alternativa de financiamento é a mais adequada ao momento da sua empresa e sua estratégia de crescimento é importante e o Mapa de Acesso a Capital oferece conceitos e boas práticas de captação a partir da experiência de empreendedores, além de especialistas e mentores da rede Endeavor.
Não existem regras rígidas e rápidas, mas é sempre necessário estudar padrões de mercado, olhar para os fundadores da empresa, seu DNA, foco geográfico, tamanho de mercado, necessidades de contratação entre outros aspectos estratégicos e financeiros para a definicação do captable e sua expansão.
Tenha um bom plano de contratação - estime a demanda de contratações dos próximos 12-24 meses (período estimado para sua próxima rodada de investimentos). Navegue entre uma abordagem top-down e bottom-up - para definir o tamanho exato do option pool, olhando para as duas diferentes abordagens a serem seguidas:
• Top-down: definindo primeiro a quantidade de ações que irá compor o option pool e, na sequência, como essas ações serão alocadas entre os colaboradores.
• Bottom up: definindo quantas opções serão outorgadas para cada colaborador a partir de uma análise individual e, depois, somando tudo para definir a quantidade de ações total do option pool. Na prática, será necessária uma combinação dos dois caminhos para se chegar em um ponto de equilíbrio entre o quanto os fundadores estão dispostos a serem diluídos e o quanto cada colaborador merece de opções.
Quando o option pool é criado – ou expandido – as participações de todos os stakeholders são diluídas. No contexto de uma nova rodada, a criação - ou expansão - do option pool acaba entrando em pauta nas negociações.
Se o pool é criado antes da entrada do novo investidor (pre-money), apenas os atuais stakeholders são diluídos; se é criado após a sua entrada (post-money), então todos são igualmente diluídos, diminuindo o peso sobre os atuais stakeholders. É por isso que a maioria dos investidores insiste na criação ou expansão do option pool antes da sua entrada (um jogo de negociação chamado de “option pool shuffle”).
Fique atento ao option pool shuffle: é uma prática comum no mercado de venture capital que, antes de realizar o aporte, o investidor tente aprovar o maior option pool possível - afinal, isso irá mitigar sua potencial diluição à medida que a empresa captar novos investimentos.
Como lidar com o option pool shuffle?
É muito difícil evitar a inclusão do option pool no valuation pre-money (antes do aporte do investidor). Portanto, a principal dica é: não deixe o investidor decidir o tamanho do option pool por você (principalmente se ele estiver tentando “empurrar” um pool maior que o necessário). Defenda o pool estimado com base no plano de contratação.
O option pool é limitado, então é muito importante ser inteligente ao distribuí-lo. Para determinar a quantidade de opções que um colaborador receberá, leve em consideração principalmente os seguintes critérios:
• Senioridade: qual a posição do colaborador na empresa? Ele gerencia pessoas e projetos relevantes, toma decisões estratégicas ou assume riscos de negócio?
• Relevância da posição: o valor da função desempenhada irá variar de acordo com a empresa. Em uma startup de SaaS, por exemplo, o valor de um product manager provavelmente será maior do que o de um analista financeiro.
• Risco assumido: quanto antes o colaborador entrar na empresa, maior o risco assumido. Na divisão das opções, todo o resto constante, quem chega primeiro recebe mais.
Para uma distribuição mais inteligente , em geral, são duas as abordagens mais utilizadas para nortear a divisão das opções entre a equipe:
1. Com base na média salarial da posição: associa-se a quantidade de opções outorgadas à média salarial daquele profissional no mercado. De forma prática, aplica-se um múltiplo sobre o salário de mercado (geralmente anual) daquele profissional, sendo que esse múltiplo irá variar de acordo com os critérios subjetivos acima - risco assumido pelo colaborador, sua senioridade e a relevância da posição para a empresa.
Para se determinar a quantidade de opções do colaborador, o resultado do cálculo acima deve ser dividido pelo preço por ação da empresa (normalmente derivado do valuation praticado na sua última rodada de investimentos).
Importante: este método é mais indicado para empresas mais maduras, que contem com um valuation mais bem fundamentado para o cálculo, pois, para empresas em estágio inicial, a definição de um valuation sólido para o negócio é mais desafiadora, prejudicando a precisão do método.
2. Com base na participação ofertada: a quantidade de opções outorgada é definida com base em uma porcentagem do cap table. Assim, após ponderadas as variáveis mencionadas anteriormente (senioridade, relevância e risco assumido), atribui-se uma porcentagem do cap table àquele colaborador (sendo que essa porcentagem definirá o número de ações a que ele terá direito).
Importante: por não depender diretamente do valuation da empresa, é um método mais recomendado para a alocação de opções no estágio inicial do negócio.
Como discutir sobre diluição com seus colaboradores?
Independentemente da abordagem adotada, sempre apresente as opções aos colaboradores em base numérica, definindo o número exato de ações que o colaborador terá direito a adquirir. Além de evitar ancorar expectativas com base em um percentual que irá mudar ao longo do tempo, você estará seguindo o padrão de mercado, já que uma opção de compra de ações é, por definição, um direito de adquirir uma certa quantia de ações pagando um preço por ação pré-definido.
Quando utilizar cada uma das abordagens?
É recomendável que a empresa adote a abordagem pautada na base salarial o mais cedo possível, assim que tiver um valuation mais consistente para o cálculo. Geralmente, isso ocorre após a sua primeira rodada de investimentos precificada.
Fundadores - Sócios que tiraram o negócio do papel - %
Time fundador - Primeiros colaboradores contratados - %
Time “startupeiro” - Colaboradores contratados depois da primeira rodada de investimentos precificada - $
Demais colaboradores - Quando a equipe já ultrapassou a marca de aprox. 50 colaboradores - $
À medida que o colaborador vai “vestindo” suas opções, diminui o seu incentivo para permanecer e gerar valor para a empresa. Além disso, é comum que alguns colaboradores se destaquem, merecendo um maior reconhecimento e, consequentemente, um maior equity. Assim, para que a empresa continue retendo os melhores talentos, é comum e recomendado que as outorgas sejam renovadas em alguns casos, considerando o valor de cada colaborador e o momento da empresa
Quando renovar?
• Promoções - Em caso de uma promoção, um novo pacote de opções pode ser outorgado para que a quantidade de stock options do colaborador seja compatível com o novo cargo assumido.
• Atualizações periódicas - É comum que as outorgas sejam renovadas entre 2 a 4 anos após a outorga inicial. O mais comum é que na renovação se outorgue cerca de 25% a 50% do total que o colaborador receberia se estivesse sendo contratado naquele momento.
• Desempenho fora da curva - Se o colaborador apresentou um desempenho excepcional e possui um papel fundamental para o futuro da empresa, é justo e estratégico que ele seja recompensado com um pacote adicional de opções.
Algumas considerações
Geralmente, renovações de outorgas não possuem período de cliff - tendo em vista que o colaborador já demonstrou o seu valor à empresa. Além disso, como já vimos, deixar uma “sobra” ao criar seu option pool facilita a outorga de renovações de opções a seus colaboradores, evitando que um novo option pool precise ser criado só para isso.
Depois de estabelecidos os critérios para a divisão das opções, é hora de explorarmos os principais termos do contrato de stock options.
Cliff - O mais comum no mercado é estabelecer um tempo mínimo de permanência de 12 meses para que o colaborador possa exercer as opções que têm direito. O cliff é uma prática usada como proteção para a startup - não obrigatória, porém indicada.
Vesting - A cláusula de vesting também não é obrigatória, mas serve para garantir um maior alinhamento de longo prazo entre a empresa e o colaborador - garantindo que o equity seja destinado apenas a pessoas que tiveram efetiva participação no desenvolvimento do negócio. Existem dois principais tipos de vesting utilizados no mercado brasileiro. São eles:
Temporal: o colaborador adquire o direito de exercer suas opções ao longo do tempo em que permanecer na empresa. Há três principais variáveis a serem definidas nesse modelo:
• Data de início do vesting: data a partir da qual os períodos de vesting e cliff passam a ser contabilizados - geralmente a própria data de assinatura do contrato de outorga.
• Período de vesting: é o prazo ao longo do qual as opções se tornarão vestidas.
• Frequência de vesting: são os intervalos mínimos de tempo a partir dos quais um novo “lote” ou parcela das opções se torna exercível. Para evitar restos e cálculos quebrados, o período deve ser múltiplo da frequência de vesting.
O mais comum no mercado é um período de vesting de 48 meses com uma frequência mensal, embora variações sejam possíveis ou, muitas vezes, recomendadas.
Por Meta ou Evento: o colaborador adquire o direito de exercer suas opções se atingidas determinadas metas de performance individuais (e.g. meta de vendas) ou organizacionais (e.g. faturamento da empresa) ou se ocorridos certos eventos, como a venda da empresa. O vesting de performance em geral não é visto como uma boa prática de mercado, pois implica critérios subjetivos que podem resultar em arbitrariedades e disputas, além de ser de mais difícil acompanhamento e gestão.
Adicionalmente, esse tipo de vesting implica maiores riscos tributários de enquadramento das stock options como salário – sujeitas, portanto, a todos os tributos trabalhistas -, conforme será explorado mais abaixo.
Preço de exercício (strike price) - O preço costuma ser pré-fixado considerando um desconto sobre o valuation mais recente da empresa. Em geral, quanto maior a empresa, menor é o desconto oferecido, pois a definição do valuation vai se tornando mais exata e o risco de fiscalização e tributação como salário aumenta. À medida que a empresa cresce e realiza novas rodadas, o preço de exercício para novas outorgas costuma crescer junto.
Além dos pontos apresentados acima, é fundamental ter em mente o que acontecerá com as opções do colaborador em algumas das situações mais sensíveis no ciclo de vida de uma stock option:
Saída do colaborador: que acontece com a opção se o colaborador sair da empresa? A resposta é: depende! A prática de mercado trata a saída do colaborador de duas formas diferentes: caso a saída seja sem justa causa ou com justa causa.
Saídas sem justa causa
• Decisão do colaborador ou da empresa: se o colaborador decide sair da empresa ou se é demitido sem justa causa, ele pode exercer as opções vestidas e “perde” as opções ainda não vestidas. Para as opções vestidas, costuma-se estabelecer um prazo de 3-4 meses após a saída do colaborador para que ele possa exercê-las, embora prazos mais longos estejam se tornando mais populares nos últimos anos, para evitar o fenômeno das “algemas douradas” das stock options.
• Morte ou incapacidade: em caso de morte ou incapacidade do colaborador, é comum que se preveja um prazo maior para exercício das opções vestidas, geralmente de 12 meses, já que esse tipo de situação pode envolver discussões judiciais e burocracias governamentais que podem dificultar o exercício.
Saída com justa causa
Caso o colaborador seja demitido com justa causa, é comum que “perca” tanto as opções vestidas quanto as não vestidas. Importante: reflita bem antes de prever a perda das opções vestidas em caso de demissão por justa causa, pelos seguintes motivos:
• Risco tributário e trabalhista: o uso de um conceito trabalhista de justa causa pode conferir natureza salarial à opção, aumentando o risco de uma maior tributação.
• Reputação e cultura da empresa: revogar os benefícios concedidos aos colaboradores pode gerar insegurança sobre o compromisso da empresa perante a equipe, o que pode impactar a satisfação dos colaboradores e, consequentemente, sua performance e lealdade, além de prejudicar a reputação da empresa para atrair novos talentos.
Aceleração do Vesting
A aceleração do vesting trata do direito do beneficiário de exercer uma maior quantidade - ou a totalidade - das opções outorgadas na ocorrência de algum evento-gatilho, geralmente um evento de liquidez (venda) da empresa e/ou sua demissão sem justa causa.
Seu principal objetivo é garantir que, em um cenário de saída (exit), os colaboradores partilhem dos resultados que ajudaram a viabilizar com seu trabalho. Há duas principais formas de aceleração: com gatilho único (single trigger) ou gatilho duplo (double trigger).
Na primeira, basta ocorrer um único evento, geralmente a venda da empresa, para que o vesting do beneficiário seja acelerado. Na segunda, a aceleração depende da ocorrência de dois eventos concomitantes, geralmente a demissão do colaborador sem justa causa em conexão à aquisição da empresa - por padrão, no prazo de até 12 meses após a venda.
Boa prática - duplo gatilho (double trigger):
A aceleração com double trigger é a mais comum no mercado, pois facilita a negociação de venda da empresa, já que é comum que o comprador queira manter colaboradores estratégicos após a aquisição. Para isso, é importante que as opções desses colaboradores sejam suficientes para incentivá-los a permanecer na empresa. Caso suas stock options fossem aceleradas, seria necessário emitir novas opções, o que, ou tornaria a operação mais cara para o comprador, ou implicaria a redução do preço por ação pago aos atuais acionistas - e, consequentemente, do total a ser recebido por eles.
Assim, o uso do double-trigger garante que: (i) os colaboradores que possam vir a ser desligados na aquisição da empresa não sejam prejudicados; (ii) a diluição dos atuais investidores e acionistas em razão da aceleração automática seja mitigada; e (iii) a venda da empresa seja facilitada.
Negociações secundárias
As negociações secundárias são uma forma do colaborador transferir suas opções para um investidor, sócio, outro colaborador ou terceiro. Representam uma valiosa oportunidade de liquidez para o colaborador, geralmente raras em empresas de capital fechado. Além disso, podem servir para a “limpeza” do cap table, já que o investidor pode comprar as opções sem que seja necessária a emissão de novas ações da empresa, reduzindo a diluição dos atuais acionistas. É comum que os contratos de opções limitem (e.g. no máximo 25% das opções vestidas) ou até proíbam essas transferências (lock-up), para garantir que o colaborador continue incentivado a permanecer e entregar valor na empresa. Outra cláusula comum é a previsão de direito de recusa à empresa (right of first refusal) caso o colaborador deseje vender as suas opções a um terceiro, ou seja, a empresa tem a preferência para adquirir as opções, desde que sob mesmo preço e condições negociados com o terceiro.
A criação do plano de stock options é um convite para os atuais colaboradores se tornarem sócios da empresa em que trabalham - e essa mensagem precisa estar clara. Essa compreensão é a chave para que se verifique o aumento no engajamento e retenção dos colaboradores - não basta criar o plano, assinar os contratos de opções e achar que o engajamento e a performance da equipe crescerão automaticamente.
Abaixo algumas dicas do que fazer e do que não fazer ao apresentar as stock options para seus colaboradores.
O QUE FAZER:
• Garanta que todos na empresa saibam sobre o plano: crie um momento para tratar especificamente sobre o assunto.
• Modele cenários pessimista, moderado e otimista de valorização das opções, focando na potencial valorização do preço da ação, para que os colaboradores possam avaliar o que estão recebendo.
• Seja transparente e assertivo - um contrato de stock options é recheado de termos específicos, por isso envie materiais didáticos para os colaboradores.
• Comunique as outorgas em número de ações e valor monetário (diferença entre o preço de exercício e o mais recente valuation da empresa).
• Busque distribuir as opções com base em critérios objetivos e claros, evitando arbitrariedades.
• Mantenha um canal aberto, claro e acessível para que as perguntas levantadas pelos colaboradores sejam direcionadas e respondidas.
O QUE NÃO FAZER:
• Deixar os colaboradores desassistidos na leitura e interpretação do plano e dos contratos de opções, que podem se mostrar complexos de entender.
• Apresentar expectativas irreais de valorização - muito baixas ou muito altas.
• Deixar a impressão de que as informações sobre a capitalização da empresa são privilegiadas e inacessíveis.
• Apresentar as opções apenas em termos percentuais, sem fazer referência à quantidade de ações outorgadas.
• Ser muito vago na hora de apresentar o valor das opções a seus colaboradores e não indicar possíveis cenários de retorno
Tributação
A tributação das stock options é objeto de grandes discussões jurídicas. A legislação brasileira não apresenta critérios claros para a tributação das opções, de modo que a forma como serão tributadas é analisada caso a caso pelo Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF) e/ou pelo Poder Judiciário.
A maior discussão diz respeito à natureza jurídica das stock options: se mercantil ou remuneratória/trabalhista. Dependendo da natureza jurídica atribuída à opção, é aplicada uma diferente alíquota do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) sobre o ganho tributável do colaborador.
Natureza Jurídica Alíquota IRPF
Mercantil: Variável de 15% a 22,5% (ganho de capital)
Remuneratória Variável: até o limite de 27,5% (carnê-leão)
Além disso, caso a opção seja considerada verba remuneratória, empresa e colaborador estarão sujeitos ao pagamento das Contribuições Previdenciárias (FGTS e INSS) sobre o ganho.
O que é o ganho tributável das stock options?
O ganho tributável é a diferença entre o preço de mercado ou de liquidação da opção, a depender da interpretação, e o preço efetivamente pago pelo beneficiário (strike price).
Como evitar a caracterização das stock options como natureza remuneratória?
Boas práticas:
As principais características analisadas pelo CARF e pelo Poder Judiciário para determinar a natureza mercantil do plano de opções são:
• Onerosidade: previsão de um preço de exercício que não seja irrisório;
• Risco de mercado: o lucro a ser realizado pelo colaborador deve estar sujeito a variações de mercado, ou seja, não pode haver retorno garantido pela empresa; e
• Voluntariedade: o colaborador não pode ser obrigado a aderir ao plano.
Práticas a serem evitadas:
Existem algumas práticas que devem ser evitadas caso se busque a caracterização da natureza remuneratória do plano de opções:
• Atribuição de um preço de exercício irrisório ou inexistente: aqui chamamos atenção para as RSUs e as Phantom Shares, que não têm preço de exercício;
• Habitualidade das outorgas: deve-se evitar que as opções sejam outorgadas com frequência para o mesmo colaborador, o que as assemelha à natureza salarial;
• Vesting por metas: a previsão de metas indica um caráter retributivo pelo trabalho prestado pelo colaborador, o que se assemelha à natureza salarial; e
• Possibilidade de recompra pela empresa das ações exercidas em caso de saída do colaborador, o que diminuiria o risco de mercado da operação.
Pontos de atenção:
• Os riscos descritos acima podem ser maiores caso as stock options sejam de sociedades limitadas, pois a nossa legislação societária não regula as opções de compra de quotas desse tipo societário. Assim, além de ser mais difícil a operacionalização societária de um plano de opções em limitadas, o risco trabalhista é acentuado.
• Empresas incorporadas no exterior, independentemente da jurisdição, e que tenham colaboradores brasileiros com opções na empresa estrangeira também estão sujeitas às mesmas consequências tributárias descritas acima.
• É importante sempre contar com o apoio de um advogado(a) tributarista especializado(a) para auxiliar em matérias tributárias.
Como diz o ditado, “cada caso é um caso”. Cada startup está inserida em um contexto diferente, portanto não existe fórmula mágica quando o assunto é stock options. A dica é conversar com outros empreendedores para entender como foi a criação de seus ESOP em suas startups.
3. Beyond equity: the full range of startup financing instruments
Startups em estágio inicial tendem a buscar financiamento com equity. Aqui, seus investidores se tornam diretamente co-proprietários do negócio. Por esta razão, não há limite para seu lado positivo - se a avaliação da empresa aumentar, suas ações também aumentam de valor.
Devido ao fato de que os investidores em ações têm vantagens ilimitadas, eles têm interesse na avaliação da empresa. E, portanto, eles provavelmente farão tudo ao seu alcance para aumentar a avaliação da empresa. É por isso que os fundos de venture capital querem sentar-se nos conselhos, aliás. Aumentar o patrimônio significa abrir mão de algum controle. Também significa aderir, de certa forma, à mentalidade de “go big or go home˜.
Por outro lado, você pode levantar o capital com dívida - Veture Debt - quando possuir ativos reais no negócio. Esses ativos podem ser usados como garantia para a dívida. Por exemplo, se uma empresa usa financiamento baseado em ativos e não efetua seus pagamentos, o credor será o proprietário desses ativos. Como uma hipoteca de um negócio. Dessa forma, bancos e outros investidores mitigam os riscos envolvidos.
É por isso que as startups em estágio inicial muito raramente conseguem financiar de investidores em dívida. Em caso de inadimplência, os investidores em dívida sempre terão preferência sobre os investidores em ações. Se minha empresa falir hoje, o Estado sempre olhará primeiro para os investidores em dívida e, por último, para os investidores em ações.
É também por isso que os investidores em dívida são mais conservadores em seu processo de diligência. Os contratos de dívida são formulados para prevenir o lado negativo e manter o capital seguro. O lado positivo da dívida é limitado.
Conclusao: dívida deve ser sempre o instrumento de financiamento mais barato em comparação com o equity.
Abaixo, um quadro completo de opcoes de financiamento à sua frente.
Venture Capital (Equity/Patrimônio Líquido)
Vamos começar com o instrumento que a maioria dos fundadores já conhece. Os Venture Capitals - investidores de capital de risco que recebem um pedaço de uma empresa (patrimônio) em troca de fundos. Para os fundadores, este é um acordo muito caro, o que reflete o nível de risco que os investidores estão assumindo .
Os investidores oferecem fundos (capital) normalmente por até 10 anos, com o entendimento de que quando a empresa for vendida ou abrir o capital, eles verão um retorno muitas vezes maior do que o investimento inicial. O retorno é realizado com a venda das ações durante a saída.
Apesar da prevalência dessa abordagem nas cenas de tecnologia e startups, apenas uma pequena parcela das empresas em todo o mundo realmente recebe venture capital . Os investidores querem ver um produto forte e um modelo de negócios com probabilidade de escalar rapidamente.
Venture Debt (dívida)
Venture Debt é uma forma interessante de financiamento de dívida, geralmente mais adequada para empresas que já receberam financiamento com base em ações, mas não têm uma longa lista de ativos para usar como garantia.
Ao contrário do venture capital, o venture debt ainda é apenas um empréstimo . Se tudo correr bem, você usa este empréstimo para estimular o crescimento por um período relativamente curto (12- 48 meses) e fazer pagamentos regulares ao longo do caminho.
Fundadores gostam desse empréstimo porque não dilui sua participação na empresa, como fazem os outros investidores que já estão a bordo. Mas o que o torna diferente de um empréstimo tradicional é que os credores de dívidas de risco tomam garantias de ações para mitigar o risco, permitindo-lhes cobrar taxas mais baixas.
É por isso que a dívida de risco é geralmente reservada para empresas que já mostram uma clara adequação do produto ao mercado e têm uma estratégia de crescimento inteligente em vigor.
Financiamento baseado em ativos (dívida)
O financiamento baseado em ativos funciona bem para as empresas com ativos claros e valiosos - como o nome sugere. Esses ativos são então usados como garantia contra um empréstimo.
Isso funciona como uma hipoteca: se você deixar de fazer os pagamentos, o banco pode ficar com os ativos. Na prática, este instrumento de financiamento é frequentemente utilizado por empresas com instalações de produção ou na economia colaborativa .
Financiamento baseado em receita (dívida)
Financiamento baseado em receita vinculado diretamente a gastos com marketing ou publicidade, onde a empresa pode mostrar um retorno positivo sobre o investimento.
Portanto, se você puder mostrar que cada recurso financeiro que você investe em publicidade traz dois em troca, você poderá pedir emprestado contra esse retorno. Teremos um artigo completo explicando isso em detalhes, mas funciona basicamente assim:
O credor concede o financiamento integral antecipadamente, como um empréstimo.
A empresa efetua reembolsos mensais. O valor reembolsado é uma porcentagem definida da receita mensal.
Esses pagamentos continuam até que o empréstimo seja reembolsado, acrescido de juros .
Após um determinado período, caso o empréstimo não tenha sido pago via receita, o valor em dívida é devido.
Portanto, a parte boa é que, se você puder gerar mais receita por meio do marketing, pagará o empréstimo com mais rapidez e evitará juros. Portanto , incentiva o bom desempenho . Por outro lado, se o negócio estiver lento, você pode acabar pagando mais do que esperava.
Financiamento de contas a receber ou “factoring” (dívida)
O factoring usa um princípio semelhante à abordagem baseada em ativos acima. Neste caso, o “ativo” em questão são as faturas pendentes detidas por uma empresa .
Se você é um fornecedor de bens ou serviços e precisa de caixa de curto prazo, você pode essencialmente vender suas contas a receber a terceiros. Você terá que vendê-los com desconto para fazer isso, mas terá acesso a fundos imediatos. E o banco ou outro terceiro lucrará quando a fatura for finalmente paga.
Financiamento da cadeia de suprimentos (dívida)
Também conhecido como “factoring reverso”, o financiamento da cadeia de abastecimento funciona de forma semelhante ao factoring, mas com algumas nuances. Geralmente envolve um comprador, um fornecedor e um terceiro que contribui com dinheiro no curto prazo. E o mais importante, geralmente é iniciado pelo comprador .
Nesse modelo, o comprador tem mais tempo para cumprir seu pagamento a um determinado fornecedor . Isso lhes dá mais capital de giro, que podem usar para pagar contas mais urgentes ou investir em campanhas oportunas.
Para ganhar mais tempo dessa forma, um terceiro (geralmente um banco) paga a fatura pendente do fornecedor imediatamente - às vezes antes do prazo. Portanto, o fornecedor tem o seu dinheiro em dia ou adiantado. E quando chega a hora de o comprador pagar, o dinheiro vai para o terceiro ou para o fornecedor, dependendo de quem está com a conta no momento.O financiamento da cadeia de suprimentos não é tecnicamente uma dívida ou empréstimo . O banco ou fundo obviamente cobrará uma taxa pelo serviço, mas não existem os mesmos ativos envolvidos.
Financiamento de estoque
À primeira vista, o financiamento de estoque é muito semelhante ao financiamento baseado em ativos. Também permite que as empresas obtenham um empréstimo para comprar bens (estoque), com os mesmos bens atuando como garantia.
É claro que isso permite que as empresas com pouco dinheiro disponível comprem os bens de que precisam para vender adiantado e paguem o empréstimo assim que os bens forem vendidos.
Uma vez que teremos artigos distintos sobre financiamento baseado em ativos e de estoque, esses artigos estabelecerão as diferenças mais precisas entre os dois. Mas aqui está um exemplo:
Uma concessionária de automóveis pode usar o financiamento de estoque para comprar sua frota. Esses carros serão vendidos eventualmente, e a concessionária fará os pagamentos a cada venda.
Um serviço de aluguel de automóveis pode usar o financiamento baseado em ativos para comprar sua frota. A frota não é estoque no mesmo sentido, porque esses carros são para emprestar, não para vender. Mas o serviço de aluguel ainda pode usar os carros como garantia contra um empréstimo e fará o reembolso das taxas de aluguel.
Empréstimos bancários tradicionais
Por último, mas não menos importante, estáo os empréstimos bancários clássicos. Em nosso pais estes sao escassos para pequenas e medias empresas. Assunto para um artigo futuro.
4) Como elaborar uma estratégia de funding
Como visto acima, o capital pode vir na forma de ativos financeiros existentes ou levantado por meio de financiamento de dívida ou equity.
Em outras palavras, as empresas normalmente consideram três tipos de capital de negócios:
Capital de giro - seus ativos circulantes menos quaisquer passivos.
Capital social - fundos pagos à empresa por investidores em troca de ações ou participação nos negócios.
Capital de dívidas - recursos disponibilizados à empresa, a serem amortizados com juros no futuro.
Não será explorado o conceito de otimização do capital de giro em detalhes, mas é importante notar que para muitas empresas, simplesmente otimizar o capital de giro é a melhor maneira de financiar o crescimento. Libere dinheiro reduzindo as ineficiências e você terá mais para investir onde for necessário.
Ao projetar sua estratégia de financiamento, comece com a pergunta "quem é o investidor dos meus sonhos e como quero trabalhar?"
Você está se estabelecendo em um relacionamento comercial de longo prazo. Certifique-se de estar bem alinhado com o outro lado da mesa em um lado pessoal, tanto quanto com os termos.
E quando você está considerando todas as opções acima, há um fato importante a ser lembrado:
O preço do financiamento sempre aumenta com o risco inerente.
Em outras palavras, se você precisa de dinheiro para assumir riscos maiores, terá que pagar mais para obtê-lo.
O que leva à pergunta óbvia: em que você gastará o dinheiro? Seu trabalho como fundador ou líder financeiro é examinar o risco que você está tentando financiar e escolher o mecanismo de financiamento apropriado. E há uma escala muito básica pela qual você pode apenas financiar:
A dívida é mais avessa ao risco e adequada para empresas em estágio posterior ou ativos mais seguros, enquanto o equity é mais arriscado e adequado para startups ou projetos em estágio inicial .
Se você tem garantias reais para oferecer, é melhor aceitar dívidas. Mas se você não tem garantia, a única coisa que resta a dar é um pedaço da empresa.
Um tamanho não serve para todos no financiamento de startups e não existe um caminho óbvio para levantar recursos.
Como profissional de investimentos ha tempos, vejo empresas buscando aquela grande semente ou rodada da Série A, quando estariam muito melhor com uma solução menos dilutiva e de prazo mais curto.
Nem toda empresa precisa de investidores em equity. Veremos exemplos de novas startups levantando capital de dívida desde o primeiro dia e outras obtendo fundos rápidos por meio de receitas ou dívidas de risco sem perder patrimônio. Também ouviremos os investidores usando estratégias de financiamento inovadoras e encontrando maneiras de promover negócios mais verdes e sustentáveis em suas fases de crescimento.
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